sexta-feira, maio 11, 2007

Fotografia


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quinta-feira, maio 03, 2007

emerges


night dreamer by bmuda

caminho levemente no silêncio, sem rumo

oh, ténue luar roxo que exibes
nas árvores o murmúrio matinal que repousa em segredo

o frio no vento cego, desvairado, indeciso
o vento que se apresenta nas folhas que tropeçam entre si

oh, rua vazia, rua da noite
rua infinita, rua desconhecida
rua cor-de-sonho

sonho, sonho, sonho… e no sonho

emerges sem fim, serena no meu corpo

e clamo

sou a sombra do teu desejo
morro na luz dos teus braços
à procura do teu doce beijo


nss, 30 de Abril de 2007

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sexta-feira, abril 20, 2007

Ilusão


"M" by Janosch Simon

Não estou interessado em inventar uma forma surpreendente de captar um possível leitor para este texto, não me sinto apto para trazer do meu íntimo rebuscadas formas de abstracção, seguidas de transformações – árduas por vezes – em letras visíveis por toda a parte, espalhadas, mortas pelo chão que piso vigorosamente. Meros símbolos, com ou sem sentido… Mas há algo que me inquieta. Tem-me acontecido várias vezes durante estas semanas – prevejo que algo vai acontecer.

Esvaem-se dos meus sonhos desejos turvos, concepções ainda perceptíveis, recortadas de insípidas danças eróticas numa imagem que guardo dos teus seios. Dos teus indescritíveis seios, substrato da tua sublime sensualidade, que adormece no alcance da tua língua turbulenta.

Com imagens construo novas imagens, onde me perco… onde me encontro, mas à tua imagem – uma nova identidade. Possuo o teu corpo, agora meu corpo. Contemplo-me a mim mesmo, nesta nova estranheza. É perfeito! Agora, posso realizar as mais perversas das minhas fantasias, sou como um espectro, dentro de ti, dentro de mim. Aprazíveis perturbações possuem-me, agitam-me contra o insaciável chão do meu novo pensamento. Quem sou? Quem fui? Perco-me novamente… sinto-me absorvido. Não me reconheço, procuro-me a mim mesmo, dentro de mim, dentro de ti. Sonho novamente, sonhos resultam em novos sonhos, num mergulho sem fim, vertiginoso… Sinto um leve sabor a sangue na minha boca. A minha visão está turva. Gritos surdos ecoam por este espaço tenebroso e misterioso. Novamente, não me encontro, não me reconheço.

[O tempo escoa-se em novos acontecimentos, possibilitando novas percepções. Há um vazio enorme, que apaga…]

Um murmúrio apodera-se dos meus ouvidos. Vermelho cor do sangue que me irriga, é projectado nos meus olhos pela luz que os acaricia levemente… deve vir da janela aberta. Há uma leveza enorme que me sustém a respiração. Sinto-me ensopado num qualquer fluido… os olhos abrem-se inconscientemente e tacteiam todo o espaço onde me encontro. São confusas as visões que percepciono. Não reconheço nada do que vejo, tudo é disforme, paradoxal... Estou suspenso, flutuo… rodopio, sensações alucinantes percorrem violentamente todo o meu corpo… sou todo sensações... Tudo parou, encontro uma imagem de um corpo, espelhado no tecto… De quem é? Ficou escuro, já não consigo ver, respirar… sinto-me a desaparecer num sono interminável…

[A porta abre-se, um vulto emerge na escuridão do quarto, uma lasciva voz levanta-se]

Para os mesmos olhos, o que tu vês é diferente do que eu vejo. Para um mesmo corpo, o que tu sentes é diferente do que eu sinto.

Segura a minha mão.

Irás ver toda a minha sensualidade sobre ti. O teu desejo, já encontrou um corpo para se exprimir.

nss, 20 de Abril de 2007

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quarta-feira, novembro 22, 2006

nas minhas mãos

textile#1 by Jarek Kubicki


sou o desejo louco

das minhas mãos à procura de um corpo
(um devaneio?)

e o frio rasga, a direcção como a gume da navalha
entre o calor do desejo louco

quero

agarrar, com minhas mãos o teu corpo
sopra-lo sobre veludos vermelhos
que tecem meu sonho

sofro

é efémero, o prazer,
estranha leveza…
onde moram infinitos desejos, cercados
negros de luz - irrompem em gritos na [liberdade]

e expressam-se em tentações
furiosas, entre os sulcos do meu íntimo
brilham de noite
morrem de dia

o meu desejo à procura do meu corpo
o meu desejo à procura do teu corpo
o teu corpo, embrulhado no meu corpo

à procura do desejo louco


Nelson Silva
[Para Floco de Neve]
16 Outubro de 2006


sábado, janeiro 28, 2006

destruir (..) o prazer

"malady", maya kulenovic

destruir

adormecido na abstracção do tempo
desfaço as nuvens docemente - bebem as lágrimas deste rio
que percorre o teu rosto transparente

de noite quando
a lua se esvai em luz
reflectida
os teus olhos emergem
na agonia da fragilidade humana

sinto que a vida é dilacerada aos poucos até ao limite

e absorvo visualmente
a sombra dos teus
olhos vazios, a melodia do
teu prazer mortuário e
as tuas enfadonhas carícias

a vida é dilacerada aos poucos até ao limite

vulto doentio que me
faz desesperar
em ódio ardente

aos poucos até ao limite

e derramo os
tecidos deste pescoço como
as pétalas das tuas rosas
que morrem na volúpia do teu jardim

até ao limite

o prazer



Nelson Silva
27 de Janeiro de 2006

Despedida (Imaginário)

Foto:David Gillanders/AP

nuvens, freneticamente envolvidas nas ondas do vento
vestidas de cinzento
cobrem o céu azul e macio
fica escuro, como o silêncio e ouço
a melodia das ledas gotas, da chuva fria
que acariciam
este lívido vulto
espectros, sonhos melancólicos, o impossível…
ofuscam qualquer movimento
qualquer frémito
estremeço… com o desígnio que me enleia
sinto em cada parte de mim o último palpitar
de alguém aprisionado no meu peito
para sempre, o teu beijo de veludo


Nelson Silva
13 de Abril de 2004

UM ESFREGÃO

Henry Michaux

Raramente encontrei na minha vida pessoas que precisassem
de ser reanimadas a cada momento como eu.
Na sociedade, já não me convidam. Passada uma hora
ou duas (em que me porto mais ou menos como a média
das pessoas) fico como um esfregão. Fico prostrado, quase
não existo, o meu casaco cai sobre as calças caídas.
Então, as pessoas entretêm-se com jogos de sociedade.
Vão depressa buscar o que é preciso. Uma delas atraves-
sa-me com uma lança, ou então serve-se dum sabre.
(Existem, ai de mim! panóplias em todas as casas.) Uma
outra vibra-me alegremente grandes golpes de clava com
uma garrafa de vinho de Moselle, ou com uma daquelas
grandes de dois litros de Chianti. Uma pessoa encantadora
dá-me vivos pontapés com os saltos altos. O seu riso
é de taça de champagne, seguem-na com interesse, e o seu
vestido ondula suavemente. Toda a gente se diverte
imenso.
Entretanto, eu reanimei. Escovo rapidamente a roupa
com a mão, e saio descontente. Todos sufocam a rir atrás
da porta.
As pessoas como eu é melhor viverem como eremitas,
é preferível.

Henri Michaux
tradução de José Carlos González

sábado, janeiro 07, 2006




Ontem comecei
A matar-te meu amor
Agora amo
O teu cadáver
Quando eu estiver morto
O meu pó gritará por ti

(Heiner Müller - Adolfo Luxúria Canibal / António Rafael)