sábado, janeiro 28, 2006

UM ESFREGÃO

Henry Michaux

Raramente encontrei na minha vida pessoas que precisassem
de ser reanimadas a cada momento como eu.
Na sociedade, já não me convidam. Passada uma hora
ou duas (em que me porto mais ou menos como a média
das pessoas) fico como um esfregão. Fico prostrado, quase
não existo, o meu casaco cai sobre as calças caídas.
Então, as pessoas entretêm-se com jogos de sociedade.
Vão depressa buscar o que é preciso. Uma delas atraves-
sa-me com uma lança, ou então serve-se dum sabre.
(Existem, ai de mim! panóplias em todas as casas.) Uma
outra vibra-me alegremente grandes golpes de clava com
uma garrafa de vinho de Moselle, ou com uma daquelas
grandes de dois litros de Chianti. Uma pessoa encantadora
dá-me vivos pontapés com os saltos altos. O seu riso
é de taça de champagne, seguem-na com interesse, e o seu
vestido ondula suavemente. Toda a gente se diverte
imenso.
Entretanto, eu reanimei. Escovo rapidamente a roupa
com a mão, e saio descontente. Todos sufocam a rir atrás
da porta.
As pessoas como eu é melhor viverem como eremitas,
é preferível.

Henri Michaux
tradução de José Carlos González